segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Demorei muito tempo para descobrir a bipolaridade de minha mãe. Sempre tive sentimentos muito confusos em relação à ela. Um misto de vontade que ela me amasse com um desejo louco de ficar o mais distante dela possível. Quando criança pensava que todas as mães eram assim e não sabia direito como lidar com isso (Até hoje não sei). Mas sempre me magoei muito com todas as brigas que ela arrumou com praticamente todos os membros da família. Principalmente as brigas com meu pai que marcaram muito minha infância.

Sou carente de mãe. Não sinto que tive uma. Tenho em minha vida uma pessoa que a todo tempo se sente perseguida e explorada por mim e todo o resto do mundo. Todo mundo é sacana, todos uns "pourras", merdas, exploradores - é exatamente assim que ela fala, com essa entonação no Pouuurra, meeeerda... deve ser porque é baiana, sei lá.

Quando eu era pequena as frases que mais ouvi foram: "Seus "pourras", seus merdas, vocês só servem para me dar trabalho! Isso ao menor deslize ou ao menor comportamento infantil que ela julgasse ofensivo à ela.

O engraçado é que só consegui perceber que tinha algo de errado com ela quando tive meu próprio filho... pude ver o quanto é fácil e prazeiroso amar, tolerar, aceitar, dar carinho à uma criança. Com o nascimento do meu filho consegui lembrar muito de minha infância e pude perceber que eu não tenho uma só lembrança de minha mãe sendo carinhosa comigo, me beijando ou abraçando, brincando comigo sem criticar ou brigar logo em seguida, sendo paciente e atenciosa... Não. Não há memórias desse tipo. As lembranças que eu tenho são dela totalmente indiferente à mim ou muito alterada aos berros dizendos coisas do tipo: "Seus pragas, seus pestes, vocês só servem para me dar trabalho!" ou então, " se não fosse por você eu já teria me picado daqui há muito tempo!" e essas lembranças são todas anteriores aos sete anos de idade.

Na adolescência a presença dela é mais marcante pois foi a época mais difícil e mais dolorida. Todas as críticas, a falta de apoio, as mudanças de endereço (que já aconteciam quando eu era criança), toda a culpa jogada em mim pelas frustrações, o dinheiro gasto comigo sempre sendo cobrado e "jogado na cara", a total falta de diálogo, as brigas constantes e todo o choro, a raiva, a humilhação, o sofrimento e a vontade de morrer sentidos por mim.

Me sinto extremamente prejudicada pelo efeito que a bipolaridade dela teve sobre mim. Hoje sou uma adulta extremamente insegura, neurótica, com auto estima baixa e vivi muito tempo em depressão. Me sentia culpada por atrapalhar a vida dela, por causar-lhe tantos sacrifícios, por ela ter aberto mão da vida dela porque eu nasci, por ela ter que gastar o dinheiro comigo. Ao mesmo tempo tinha raiva pois não via os pais dos meus amigos jogando as contas, o aluguel, o gasto com comida na cara deles.